sábado, 8 de dezembro de 2012

Dezembro de 2012, TOLSTOI

Queridos leitores/lectores:
 
 
Tolstoi,
 
Philip Roth,
 
Dostoievski, Shakespeare,
 
Valter Hugo Mãe, Sándor Márai,
 
Machado de Assis, José Luís Peixoto 

e Muriel Barbery
 
são alguns dos escritores
son algunos de los escritores
 
que nos deleitaram com seus livros durante 2012!
que nos deleitaron con sus libros durante el 2012!

F E L I Z EF E S T A S!!

F E L I C EF I E S T A S!!


Encontro n° 50! 11-11-2012

 
 
A morte de Ivan Ilitch
La muerte de Iván Illich 
 
 
 
 
de 
 
LEÓN TOLSTOI
 
 
 
 
 
 
Lembrancinha do encontro n°50 - 11 de dezembro de 2012.
O Homem Nu
Fernando Sabino


Ao acordar, disse para a mulher:
— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.
— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.
— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.
Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.
Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:
— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.
Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.
Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares... Desta vez, era o homem da televisão!
Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:
— Maria, por favor! Sou eu!
Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.
Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.
— Ah, isso é que não! — fez o homem nu, sobressaltado.
E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!
— Isso é que não — repetiu, furioso.
Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.
— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.
Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:
— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso. — Imagine que eu...
A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:
— Valha-me Deus! O padeiro está nu!
E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:
— Tem um homem pelado aqui na porta!
Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:
— É um tarado!
— Olha, que horror!
— Não olha não! Já pra dentro, minha filha!
Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.
— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.
Não era: era o cobrador da televisão.
 
 
 
 
 

10 comentários:

  1. A conversa sobre Ivan Ilitch foi muito provocante. Terei que escrever sobre ela mais tarde. Por ora, dos textos que lemos, vão os que li:

    Recebi no meu marcador de livro a seguinte frase do Saramago: "o nosso defeito é tomar demasiado a sério certas coisas que são sérias, mas que, como se costuma dizer, não são para tanto". Perfeito, não? Amei o presente, obrigada!

    E li o seguinte trecho: "Estou tão feliz que nem rio. Deito-me com desleixo, bastando-me: eu e eu. O regressar de meu marido mediu, até hoje, todas as minhas esperas. O perdoar a meu homem foi medida do desespero. Durante tempos, só tive piedade de mim. Hoje não, eu me desmesuro, pronta a crianceiras e desatinos. Minha alegria, assim tanta, só pode ser errada. Desculpe-me, Cristo: esplendoroso é o que sucede, não o que se espera. E eu, durante anos, tive vergonha da alegria. Estar-se contente, ainda vá. Que isso é passageiro. Mas ser-se alegre é excessivo como pecado mortalício". Esse trecho é o início do conto Os Olhos dos Mortos, no livro maravilhoso "O Fio das Missangas".

    Mais tarde falo do Ivan.

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  2. Ontem li pra vocês dois poeminhas do Adonis (pseudônimo de Ali Ahmed Said Esber, poeta e ensaísta sírio):

    Cancões para a morte
    1.
    A morte quando passa por mim é como se
    o silêncio a abafasse
    é como se dormisse quando eu dormisse.

    2.
    Ó mãos da morte, alonguem meu caminho
    meu coração é presa do desconhecido,
    alonguem meu caminho
    quem sabe descubro a essência do impossível
    e vejo o mundo ao meu redor.

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  3. A morte de Ivan Ilitch, novela publicada em 1886,retrata com aguda profundidade o tema da morte e o sentido da vida personificada em Ivan Ilitch,um juiz russo que na antecâmera da morte faz uma reflexão profunda sobre todas as etapas da sua vida desvelando-se a si próprio.

    Achei pertinente levar ao grupo meu poema que fala do enfrentamento da morte após a partida de meu filho, mas principalmente dos fios de esperança que conduzem à vida .

    Sianinha

    No descuido da dor, sou feliz aqui e ali
    No cochilo do amor, as lições não são claras , são sonolentas
    No espasmo do viver , todas as dilacerações parecem ter cura
    E todas as esperanças podem acontecer.

    Na falta de sentido, sou musgo agarrado em pau
    Qualquer veia minha pode romper
    Qualquer fruto meu , amadurecer .

    Ai sol, não me cedas à noite
    Com meus sonhos a permear o escuro
    Como sianinha entremeando saudades claras em panos pretos.


    21-11-2011

    E ,não por acaso, saiu-me a seguinte frase com lembrancinha do encontro 50:

    " Pelas plantas dos pés subia um estremecimento de medo, o sussurro de que a terra poderia aprofundar-se.E de dentro erguiam-se certas borboletas batendo asas por todo o corpo." ( Clarice Lispector)

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  4. Poema que a Celisa leu pra mim...
    Depois coloco o que li para Fatima

    Amor é um fogo que arde sem se ver;
    É ferida que dói, e não se sente;

    É um contentamento descontente;
    É dor que desatina sem doer.

    É um não querer mais que bem querer;
    É um andar solitário entre a gente;
    É nunca contentar-se e contente;
    É um cuidar que ganha em se perder;

    É querer estar preso por vontade;
    É servir a quem vence, o vencedor;
    É ter com quem nos mata, lealdade.

    Mas como causar pode seu favor
    Nos corações humanos amizade,
    Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

    Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

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  5. Fernando Pessoa
    Navegar é Preciso

    Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
    "Navegar é preciso; viver não é preciso".
    Quero para mim o espírito [d]esta frase,
    transformada a forma para a casar como eu sou:

    Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
    Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
    Só quero torná-la grande,
    ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.

    Só quero torná-la de toda a humanidade;
    ainda que para isso tenha de a perder como minha.
    Cada vez mais assim penso.

    Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
    o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
    para a evolução da humanidade.

    É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

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  6. POEMA 36 de Arriete Vilela (Obra poética reunida)

    Sente-se sujo de palavras
    o Poeta.
    Não das que ele silenciou,

    mas das que o revelam à clara
    luz da manhã, diante de olhares
    em excesso.

    Frente à morte, sente-se em falta
    consigo mesmo o Poeta:
    esqueceu-se de seu humano destino,
    tão amiudemente enrodilhado esteve
    à poesia.

    Agora é apenas sonhador sem mais tempo
    para viver.

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  7. Me motivaron a transcribir un poema ! Es de una poeta uruguaya Idea Vilariño. Tuvo una historia de amor increíble con otro escritor Onetti . Dicen que con Onetti sólo pasaron 9 noches juntos en 11 años y que Onetti le reprochaba "que lo usaba para escribir esos poemas tremendos". El primer y último verso para mí son perfectos. Cuando dice "estar" también. Ojalá les guste.

    YA NO

    Ya no será

    ya no
    no viviremos juntos
    no criaré a tu hijo
    no coseré tu ropa
    no te tendré de noche
    no te besaré al irme
    nunca sabrás quién fui
    por qué me amaron otros.
    No llegaré a saber
    por qué ni cómo nunca
    ni si era de verdad
    lo que dijiste que era
    ni quién fuiste
    ni qué fui para ti
    ni cómo hubiera sido
    vivir juntos
    querernos
    esperarnos
    estar
    Ya no soy más que yo
    para siempre y tú
    ya
    no serás para mí
    más que tú. Ya no estás
    en un día futuro
    no sabré donde vives
    con quién
    ni si te acuerdas.
    No me abrazarás nunca
    como esa noche
    nunca.
    No volveré a tocarte.
    No te veré morir.

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  8. Fiquei com inveja desse sarau de poemas do nossoclubedeleitura.
    E envio um também. Como um presente de Natal. Um poema de amor.
    Só que vai em espanhol, representando a linguagem em que estou me (intro)metendo nesse pedaço de minha vida.
    O autor é espanhol: Pedro Salinas (1891-1951).

    LA VOZ A TI DEBIDA
    Versos 494 a 521

    Para vivir no quiero
    islas, palacios, torres.
    ¡Qué alegría más alta:
    vivir en los pronombres!

    Quítate ya los trajes,
    las señas, los retratos;
    yo no te quiero así,
    disfrazada de otra,
    hija siempre de algo.
    Te quiero pura, libre,
    irreductible: tú.
    Sé que cuando te llame
    entre todas las gentes
    del mundo,
    sólo tú serás tú.
    Y cuando me preguntes
    quién es el que te llama,
    el que te quiere suya,
    enterraré los nombres,
    los rótulos, la historia.
    Iré rompiendo todo
    lo que encima me echaron
    desde antes de nacer.
    Y vuelto ya al anónimo
    eterno del desnudo,
    de la piedra, del mundo,
    te diré:
    «Yo te quiero, soy yo».

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  9. "Na realidade, havia ali o mesmo que há em casa de todas as pessoas não muito ricas, mas que desejam parecê-lo e por isto apenas se parecem entre si.... ; enfim, aquilo que todas as pessoas de determinado tipo fazem para se parecer com todas as pessoas de determinado tipo."

    Do livro, "A Morte de Ivan Ilitch" - Lev Tolstói.

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  10. Receita
    Se a boca do mundo disser
    que não há saída,
    tenta.
    Se o esforço for demais
    para cada conquista,
    aguenta.
    Se continuar de pé for difícil
    e não quiseres deitar,
    senta.
    Se sentires esgotadas
    as possibilidades reais,
    inventa.
    Se a dúvida te algema
    e a incerteza te acorrenta,
    arrebenta.
    se tudo te empurrar para trás
    e prá frente não der prá correr,
    vai nalenta.
    Se as carpideiras do azar
    pintarem de negro o destino,
    afugenta.
    se o desconsolo cantar coro
    te batiza de água
    benta.
    se tudo que souberes não bastar
    outra aprendizagem
    experimenta.
    se alegião dos problemas
    marchar contra ti,
    enfrenta.
    a cada "não" que encontrares
    tenta, inventa, experimenta.
    Luiz coronel

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